19.12.11

momo

[A entrada do MoMo, no Casino de Lisboa (foto de divulgação)]


A oriente, inaugurado em finais de Novembro no Casino de Lisboa, há um novo restaurante que se diz pan-asiático e não esconde ao que veio.

Confesso que quando ouvi pela primeira vez o seu nome, MoMo, fiquei intrigado... Tinha lido que o empresário argelino Mourad Mazouz, há muito radicado na capital britânica, havia decidido exportar o conceito do seu Momo londrino até Beirute e, de repente, quase acreditei que Lisboa pudesse ter sido eleita para nova réplica.

[A decoração é assinada pelas arquitetas Cristina Santos Silva e Ana Menezes Cardoso (foto de divulgação)]

Não foi o caso.

Trata-se, tão-só, de uma coincidência — já agora, o nome remete-nos para os populares dumplings, bolinhos de massa de pão cozidos a vapor sobre um caldo de carne ou legumes —, sem que isso cause algum constrangimento ou melindre ao grupo Lágrimas Hotels & Emotions. 

[Pé alto e grandes vidraças criam um espaço mais impactante (foto de divulgação)]

Com provas dadas em restaurantes e hotéis de norte a sul de Portugal, este grupo viu no espaço vago do último andar do Casino de Lisboa, no Parque das Nações,  uma oportunidade de negócio e, num tempo recorde, tratou, sem cair no explicitamente óbvio, de recriar ali uma atmosfera oriental condizente com o conceito. A boa vista é outro dos seus trunfos.

[Os vasos chineses, à entrada, vieram do Hotel Infante Sagres (foto de divulgação)]

Preto e encarnado são os tons dominantes. Miguel Júdice, o CEO do grupo, acompanhou de perto todo o processo, mas quem assina a decoração é a dupla de arquitetas Cristina Santos Silva e Ana Menezes Cardoso, que viveram um bom tempo em Macau. Foi dele, porém, a ideia — e o risco assumido — de trazer dois enormes vasos chineses, legítimos, do Hotel Infante Sagres, no Porto, para dar outra imponência à entrada do MoMo.

[O layout moderno contrabalança os toques orientais da decoração (foto de divulgação)]

Claro que o MoMo não pode ser alheio ao facto de se encontrar num casino e de fazer parte das suas ofertas. Isso obriga-o a um ritmo específico e explica a aposta no conceito pan-asiático, exótico quanto baste, mas abrangente e simplificado o suficiente para proporcionar, em diferentes níveis, uma viagem gastronómica que pisca assumidamente o olho aos que ainda não ousaram render-se por completo às delícias da cozinha oriental.

[A boa vista é outro dos trunfos do MoMo (foto de divulgação)]

Como num cruzeiro com diferentes escalas num mesmo itinerário, o MoMo propõe-se, ao misturar na carta pratos de procedências várias como a Tailândia, China, Vietname ou Índia, dar a provar e a conhecer — sem sair da zona de conforto, mas com toque autoral — novas combinações, sabores e texturas. Para quem nunca provou, funciona como uma iniciação; para quem já ousou ir além, não será tão inovador, mas apresenta uma relação custo-benefício bem interessante.

[Paulo Morais, o chef do Umai, foi quem desenhou a carta do MoMo (foto de divulgação)]

Para isso a contribuição de Paulo Morais, que desenhou e testou a ementa, foi determinante. À frente do Umai, com Anna Lins, o chef é visto entre os seus pares como uma referência incontornável quando se fala de cozinha asiática em Portugal, pelo que muitas vezes é chamado a prestar consultadoria em outros projetos. Foi o que aconteceu aqui: ele não está no comando do MoMo, mas as criações são suas.

[O bacalhau, um dos pratos mais felizes do MoMo (foto de divulgação)]

Entre tudo o que pude ali degustar num jantar de apresentação — e foi muita coisa! —, ficou-me sobretudo na memória um prato assinado por Morais que tem tudo para agradar e surpreender os amantes do fiel amigo: bacalhau fresco assado com molho de miso, yakimeshi e salada de legumes assados. É daquelas combinações que, embora com o seu quê de inusitado, resultam num final feliz.

[O caranguejo de casca mole crocante (foto de divulgação)]

Também apreciei o caranguejo de casca mole crocante, uma iguaria bastante comum no Brasil, e o facto de algumas sobremesas do Grupo Lágrimas que já se tornaram "clássicos", como o pão-de-ló ou o crème brûlée, se apresentarem revisitadas e em novas companhias. Nos vinhos, à falta de asiáticos credíveis, optou-se por vinhos europeus (Portugal incluído, claro) capazes de complementar e enaltecer o equilíbrio entre o doce, o salgado e o picante deste tipo de pratos.


[Uma cozinha de fusão agradável à vista e acessível à maioria dos palatos (foto de divulgação)]


Os preços à la carte são acessíveis, com entradas na ordem dos €10-€12, pratos a menos de €20 e sobremesas entre os €4 e €8. Vale, no entanto, a pena destacar a fórmula dos menus-expresso, pensados para quem está com pressa de jogar ou ver um espetáculo e quer ser servido em 30 minutos, que saem por €25 em cinco combinações possíveis:

Menu Japão: camarão tigre e novilho grelhado com yakimeshi e legumes salteados 
Menu Tailândia: caril verde com peixe e marisco e arroz de jasmim; som tom Thai; salada de papaia verde 
Menu Índia: vieiras em espuma de caril; pão naan com chutney; salada de arroz tufado com ervas aromáticas; kofta de borrego 
Menu Vietname: rolo de papel de arroz com legumes; phô bó (caldo de carne); salada de manga e camarão 
Veggie Pan Asian: couve pak choi salteada; mini crepes de legumes; beringela chinesa grelhada com molho de miso; pad thai (massa salteada com tofu e legumes)

[O sashimi, a par do sushi, está presente em força no menu (foto de divulgação)]

A considerar igualmente, o menu de degustação, com sete pratos e uma sobremesa escolhidos pela casa, que sai por €42. O MoMo pretende ainda ser uma opção fiável para quem quer simplesmente comer sushi e sashimi.

Casino de Lisboa, Alameda dos Oceanos, Parque das Nações, de ter. a sáb., entre as 19.30 e a 01.00. Por se encontrar dentro do casino, o MoMo está aberto apenas a maiores de 18 anos.

15.12.11

cantinho do avillez

[É assim o Cantinho do Avillez, ao Chiado (fotos de divulgação)]

E ontem, quem segue José Avillez no Facebook ficou a saber que, entre bifanas, entrevistas, conferências de imprensa e fotos com António Lobo Antunes, Anthony Bourdain, o homem de quem tanto se falou e escreveu nas últimas semanas a propósito do "No Reservations" que veio gravar a Lisboa para ir ao ar em Abril, arranjou tempo para dar o ar da sua graça no Cantinho do Avillez.

Foi o próprio chef — ou quem lhe faz a assessoria — que não resistiu a partilhar uma foto da foto no seu mural. Não é para menos. Bem ou mal, todos parecem ter alguma coisa a dizer sobre Bourdain, pelo que não custa nada aproveitar a "boleia" mediática. 

[José Avillez no seu Cantinho (foto de divulgação)]

Não que Avillez precise. Com casa cheia (no sábado passado, só consegui reserva para o turno das 22.30 e ainda assim com alguns dias de antecedência) e a imprensa toda à sua roda, só os muito distraídos é que ainda não deram pelo seu Cantinho num dos recantos mais sossegados do Chiado, pouco abaixo do São Carlos.


[Arquitetura de Ana Anahory e decoração de Felipa Almeida (foto de divulgação)]


Entre o pronto-a-comer das empadas (já aqui devidamente testadas e comentadas) e a papa fina do tão aguardado Belcanto — também no Chiado, paredes-meias com o Largo do chef Miguel Castro e Silva, passei à sua porta dias atrás e não me pareceu para já, mas posso estar enganado... —, o Cantinho é assim, à primeira vista, uma espécie de meio-termo.


[A instalação de Joana Astolfi tornou-se a "imagem" do Cantinho (foto de divulgação)]


E que ninguém leia nas entrelinhas um reparo negativo.


[Procedências diversas para um ambiente cheio de detalhes (foto de divulgação)]


O Cantinho é, assumidamente, um espaço de cozinha simples, mas com toque de mestre, destinado a servir pratos do dia-a-dia de forma criativa, em ambiente descontraído e com uma boa relação qualidade-preço.


[Talheres da Costa Nova e pratos do pão de um serviço de louça criado por Bordallo Pinheiro, são vários os apontamentos portugueses (foto de divulgação)]


E, posso adiantar-me desde já, cumpre o seu objetivo perfeitamente. Poderá até defraudar alguns, que possam ir ali ao engano à procura do que certamente só irão encontrar no Belcanto, mas acho que ninguém poderá dizer que não vale o que custa.


Arrisco mesmo dizer que vale mais do que custa. Porque, a verdade é esta, não é caro para aquilo a que se propõe (e cumpre).


Avillez, escrevi-o antes, não tem pruridos em colocar o seu nome em projetos mais comerciais. É novo, talentoso e ambicioso, mas é também um homem de negócios. Já o provou e eu não vejo mal nisso. É até uma das coisas que admiro e que me ajudam a equilibrar a sensação de que, independentemente do seu inegável talento, é muitas vezes levado "ao colo" pela crítica lusa (e não só).


Avillez, é um facto, agrada. 


O Cantinho, como o nome já indicia, é pequeno, mas não atrofia. Depois da entrada, e antes da cozinha, a mesa comprida mais desejada, mas que resulta apenas para grupos, fica junto ao nicho onde a artista plástica Joana Astolfi encavalitou peças de outros tempos que todos reconhecemos. A memorabilia pegou e é hoje o cartão de visita da casa.


À esquerda, para quem entra, a única sala propriamente dita, onde os detalhes pensados por Avillez e pela decoradora Felipa Almeida saltam ou não à vista. Depende do "olho" e da informação que se leva.


Candeeiros vintage e cadeiras desirmanadas. O recurso não é novo, mas ajuda ter, entre peças com ar Ikea e outras arrematadas na Feira da Ladra ou em leilões do eBay, umas quantas reproduções coloridas da cadeira DSW de Charles & Ray Eames.


Há ainda uma parede que parece ser de madeira demolida, mas que é afinal papel trompe-l'oeil. Pra valer, gostei mesmo muito dos pratos e talheres da Costa Nova, dos pratos do pão do serviço "Couves" da Bordallo Pinheiro, das pequenas assadeiras em ferro da Staub ou até de algumas peças desenhadas por Avillez.


Pode parecer que estou a dar demasiada atenção aos detalhes. Porventura, até estou. Mas eles são importantes para entender, e apreciar, aquilo a que Avillez se propõe na sua carta.


A profusão de petiscos na mesma, bem como de entradas que se prestam a ser partilhadas, poderiam levar-nos a pensar que se trata de mais uma tasca ou taberna moderna, mas não é por ai. Os petiscos portugueses, mais ou menos tradicionais, estão lá, mas há também receitas familiares, criações novas e outras claramente influenciadas por viagens.


[A farinheira com crosta de broa e coentros (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Nas entradas, resisti às vieiras marinadas com creme de abacate (que provara antes, na edição deste ano do Peixe em Lisboa) e aos peixinhos da horta, e partilhei à mesa uma dose de farinheira com broa e coentros (gosto de farinheira do jeito que for, mas esta versão fica deliciosamente crocante) e outra de empadinhas de perdiz, bacon e cebolinha (massa boa, seca e fina: recheio aveludado e apaladado).


[As empadinhas de perdiz, bacon e cebolinha (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Antes disso, o couvert, composto por pães da Quinoa (a padaria artesanal do Chiado, de quem falei aqui, é uma parceira), azeitonas, manteiga e paté de tomate (delicioso!), entreteve muito bem o nosso palato.


[Os ingredientes do Prego MX LX (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Como prato, não resistimos e escolhemos um que, de tão comentado, se tornou um "must have" da casa: o famoso prego MX LX. Inspirado pelos tacos mexicanos, Avillez idealizou um esquema que mata dois coelhos de uma cajadada só. A ideia é simples: cada um monta o seu, dispondo para isso de tirinhas de carne de vaca, servida numa frigideira, e de ingredientes como malagueta, guacamole, lima ou cebola roxa, servidos em tacinhas, que devem depois ser enrolados a gosto em tortillas de milho.


[Cada um monta o seu prego nas tortillas de milho (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


É o tipo de coisa que resulta em cheio e que muitos vão querer experimentar em casa.


[Sorvete de limão com manjericão e vodca (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Para sobremesa, um sorvete: cubos de limão com manjericão e vodca, só porque precisávamos de algo para limpar o palato, que fosse ao mesmo tempo leve e refrescante. Touché.


[Nos vinhos, um branco e um tinto produzidos por Avillez e José Bento dos Santos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Não cheguei a experimentar nenhum dos cocktails que Avillez se gaba de ter na carta, mas prestei atenção aos vinhos. Os preços começam nos €12 por garrafa, sendo que há igualmente opções a copo. Escolhemos o tinto JA, que resultou de uma parceria de Avillez com o gastrónomo José Bento dos Santos. Bastante agradável de beber e bom preço: €14 a garrafa.


Na hora do café, Avillez confia num outro parceiro de peso, a Nespresso. Sei que é, cada vez mais, recorrente nos restaurantes, mas não me conformo. Não troco nenhum Nespresso por um bom café expresso tirado como deve ser. 


No final, uns muito razoáveis €20 por cabeça, gorjeta incluída, e satisfação generalizada de quem me acompanhava nessa noite.


O próximo jantar, já deixámos apalavrado, será no Belcanto, assim abra ele em breve.

Rua dos Duques de Bragança, 7, tel. 211 992 369, almoços, de seg. a sáb., entre as 12.30 e as 15.00; jantares, de seg. a sáb., entre as 19.30 e as 00.00

6.12.11

6ª edição do príncipe real live: city lights (8-10.12.11)


Não tenho memória de uma época pré-natalícia tão animada como esta.

Tendo em conta a conjuntura atual, o facto pode parecer um contra-senso; para muitos, estou certo, será mesmo até encarado como uma espécie de provocação.

Eu, chamem-me otimista, prefiro encarar tudo isto como uma demonstração de inconformismo, de criatividade e de, porque não?, de espírito solidário.

[AR-PAB Antiques, uma das lojas participantes no Príncipe Real Live (foto de divulgação)]

Porque não se trata de um mero apelo ao consumismo, vai mais além. O pretexto das compras de Natal (privilegiando o comércio local) é, neste e noutros casos, aproveitado para levantar o ânimo da cidade, proporcionando aos seus moradores e aos seus visitantes animações de rua, bem como nas lojas participantes, alusivas à quadra.

Temos o costume de dizer que a adversidade espevita e estimula os sentidos. Pois bem, isso só aumenta a minha curiosidade em relação à 6ª edição do Príncipe Real Live.

[O jardim da Praça do Príncipe Real (foto de divulgação)]

O tema escolhido foi "City Lights" e o evento natalício vai tomar conta das principais artérias do Princípe Real durante os dias 8, 9 e 10 de Dezembro.


Mais do que ruas engalanadas (o que já não seria mau, tendo em conta os cortes introduzidos pela CML a reboque da crise), as principais lojas, galerias e outros espaços de interesse público no eixo Praça do Príncipe Real-Rua da Escola Politécnica-Rua D. Pedro V vão ficar abertos até às 23.00 e acolher eventos tão diversos como exposições de arte, pintura, jóias, música ao vivo, degustações, entre outras coisas.

[Um dos quiosques que animam a Praça do Príncipe Real (foto de divulgação)]

Em resumo, a ideia é passar um bom bocado e levar as pessoas a passear num bairro que tem sabido reinventar-se. 

A programação é extensa, mas posso destacar as que me ficaram mais debaixo d'olho:

* Iluminação das árvores do Jardim na Praça do Príncipe Real  e montagem de uma árvore de Natal de grandes dimensões, que terá a particularidade de ser feita com materiais recicláveis e de ter como autor o artista plástico Alexandre Bobone. 
*Angariação de roupa e bens de primeira necessidade para a associação sem fins lucrativos Riso, que apoia a população carenciada da freguesia das Mercês.

[Fachada da loja Carla Amaro (foto de divulgação)]

*Carla Amaro (Rua de São Marçal,107): apresentação da colecção "Jingle Bells"; campanha troca de Natal (troca de peças antigas por vales de desconto); oferta de bebidas espirituosas e amuse-bouche sucrée.

[Convite do Orpheu Caffé (foto de divulgação)]

*Orpheu Caffé (Praça do Príncipe Real, 5-A): nos três dias, "Ophélia no Orpheu Caffé" (a partir das 17.00); no dia 8, apresentação do "Chá das 5" e Cocktail Hendricks (das 19.00 às 21.30); no dia 9, "Vinyl Seesions" com Dj Joaquim (a partir das 20.00) e degustação de caipirinhas (das 17.00 às 19.00); no dia 10, contador de histórias da "Orpheu Mini" (16.00), mini feira do livro (parceria do Orpheu Caffé com as edições "Orfeu Negro") e mercado vintage (até às 18.00).

[D'ici et Là (foto de divulgação)]

*D'ici et Là (Rua D. Pedro V, 93-95): cocktail de inauguração do Evento Principe Real "City Lights" (dia 8, às 18.00); Promoção Especial "d'ici et là” oferece um voucher de €25 por compras superiores a €250 (só pode ser usado só em Janeiro 2012); exposição de Fotografia -LOVE-, de Sabrina Strauss.

[Fabrico Infinito (foto de divulgação)]

*Montra viva @Fabrico Infinito/Babel (Rua D. Pedro V, 74): Sancha Trindade escolheu a Livraria Babel Fabrico Infinito, ou mais precisamente a sua montra, para criar um espaço vivo e à mostra de todos, onde, entre outras coisas, serão servidos jantares num espírito de partilha (convidados para jantar às 20.00, demais ações entre as 18.00 e as 23.00).

5.12.11

empadaria do chef


O jovem chef José Avillez tardou, mas arrecadou.

Durante um bom tempo, após a sua saída do restaurante Tavares, o que apanhou muito boa gente de surpresa, interrogámo-nos sobre os seus planos futuros, pois ninguém acreditava que, conquistada a primeira estrela Michelin, ele ficaria muito tempo afastado das luzes da ribalta.

[Empadaria do Chef, o mais recente negócio de José Avillez (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Na verdade, o regresso do chef às grandes lides demorou mais do que previsto, mas tudo indica que esteja para muito breve — fala-se em meados de Dezembro — a abertura do restaurante Belcanto.

Do Belcanto falarei a seu tempo.

[O negócio das empadas nasce de uma parceria entre Avillez e a H3 (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Neste meio tempo, Avillez não esteve propriamente parado, pois foi tocando o seu catering, deu o ar da sua graça em vários eventos e, mais recentemente, voltou a chamar a si todas as atenções por conta da inauguração do Cantinho do Avillez, ao Chiado.

Ainda não fui até lá conferir pessoalmente, mas, a fazer fé nos que se ouve e lê, é um sucesso de público e de crítica.

[Empadas de 200gr em oito versões de recheios diferentes (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Avillez já provou ser talentoso — e tem a seu favor o aval de figuras ilustres, e acima de suspeita, como o gastrónomo José Bento dos Santos, seu padrinho, ou o suprachef Ferran Adrià, junto de quem estagiou —, mas também tem dado mostras de ter olho para o negócio e de não ser desprovido de sentido prático.

A sua mais recente incursão no negócio das empadas é a prova disso.


O primeiro, e até ver único, ponto de venda abriu, há alguns dias, na praça de restauração do Centro Comercial Colombo e atende pelo nome óbvio de Empadaria do Chef.

Avillez num centro comercial, entre cadeias de fast food?!

[Além das empadas, mousse de lima e bolo de chocolate nos doces (foto de divulgação)]

Isso mesmo e, arrisco-me a acrescentar, não é por ai que lhe vão cair os parentes na lama. Sem pruridos, Avillez mantém, a par da consultadoria e do catering, um serviço de take-away de refeições frescas e congeladas.

A Empadaria do Chef nasce do seu gosto pelas empadas e, em tempo de vacas magras, pela oportunidade de negócio em parceria com um quarteto de peso — a saber: Nuno Bonneville Van Uden, Albano Homem de Melo, António Cunha Araújo e o chef Vítor Lourenço — que fez da cadeia de hambúrgueres gourmet H3 um sucesso dentro e fora de portas (depois de Espanha e Polónia, a H3 chegou ao Brasil via franchising).

[Por fora, são todas iguais e pesam 200gr (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Com bordões e layout bem esgalhados, além da imagem XXL do chef  estampada como parte assumida da estratégia de marketing, a unidade é agradável à vista.

O conceito, simples e aparentemente eficaz. Empadas de 200 gramas, com massa bem crocante e recheios desenvolvidos por Avillez que vão do clássico ao exótico quanto baste: galinha, cozido à portuguesa, camarão salteado, frango thai, alheira e grelos, vitela, espinafres e bacon, bacalhau à portuguesa e ainda legumes e requeijão.

[O recheio da empada de frango thai (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Oito versões, que podem ser degustadas a solo ou como refeição, entre os €5,95 e os €7,50, com direito a dois acompanhamentos a eleger entre batata palha caseira, arroz e salada, mais uma bebida H3 (a limonada sai bastante) ou água.

Provei a empada de frango thai e devo dizer que fiquei freguês. Sempre gostei de empadas, mas não de todas as empadas.

[Quem não gosta de comer em centros comerciais, pode levá-las para fora (foto de divulgação)]

As do Avillez barra H3 cumprem todos os requisitos de uma boa empada — massa crocante e sequinha; recheio bem temperado e abundante (empadas ocas por dentro, quem nunca padeceu dessa decepção!) — e ainda com o bónus de surpreenderem nos recheios.

E aqueles que torcem o nariz à ideia de comer num centro comercial, têm bom remédio: levá-las para casa, ou para onde bem entenderem, devidamente acondicionadas em caixas de papelão catitas.

Centro Comercial Colombo, Av. Lusíada , todos os dias, entre as 11.00 e as 00.00 

passatempo @ddressbook | altis hotels: convite duplo para sessão de abertura da mostra de cinema da américa latina (6/12)

A vencedora do passatempo, encontrada aleatoriamente através do random.org, é Nádia Leite Ribeiro. Parabéns!

29.11.11

poison d'amour

[Maria Antonieta é uma das imagens de marca associadas à Poison d'Amour, a mais nova pastelaria fina do Príncipe Real; abaixo: a fachada (foto de divulgação)]
Antes que alguém diga que já vou tarde para falar da Poison d'Amour, eu adianto-me e explico.

Eu sei que a Poison d'Amour abriu em Agosto, mas quando isso aconteceu eu estava em vésperas de passar uma longa temporada fora de Lisboa e, tout court (e o francês neste caso calha bem), não deu tempo.

[A primeira coisa que vemos, mesmo antes de entrar, é o balcão das guloseimas (foto de divulgação)]

Enfim, mais vale tarde do que nunca, não é mesmo? Para mais, quero acreditar que, tal como foi para mim, a Poison d'Amour ainda seja não digo uma novidade, mas pelo menos um lugar a descobrir para muito boa gente.

[Barroco, mas não muito... (foto de divulgação)]

Quem escreve por último arrisca-se a não acrescentar nada de verdadeiramente novo ao que já foi dito, mas a vantagem é que, esfriado o entusiasmo, podemos também ser mais objetivos e menos passionais.

[Tons claros, paredes quase nuas para que sobressaia o que realmente interessa e também o que não interessa, como o extintor (foto de divulgação)]

Serve isto para dizer, a propósito da mais nova pastelaria-salão de chá-cafetaria do Príncipe Real, num dos trechos mais disputados da rua da Escola Politécnica, que tenho lido coisas maravilhosas e rasgados elogios. É, a fazer fé nos relatos praticamente unânimes, um pedacinho do céu de Paris em Lisboa.

[Outra perspetiva do salão principal (foto de divulgação)]

Mas ai, não sei bem porquê, eu só me consigo lembrar daquele fado de Amália em que ela, como ninguém, cantava "Lisboa não sejas francesa/ Com toda a certeza / Não vais ser feliz / (...) / Lisboa não sejas francesa / Tu és portuguesa".

[Arquitetura do atelier Alma Quadros e design de interiores de Susana Camelo (foto de divulgação)] 

A Poison d'Amour inspirou-se nas mais finas pâtisseries parisienses e não o esconde. Pelo contrário, faz gala nisso.


[O pátio traseiro, para os dias de sol, rodeado pelo Jardim Botânico (foto de divulgação)]


A fachada rosa, com largos janelões rasgados de cima a baixo, dá logo o mote e ninguém entra ali ao engano, até porque pela montra já dá para ir espreitando os macarons, os brioches, as tartelettes, as bavaroises, os pains aux raisins, entre outras coisas igualmente boas.


Ponto para a forma como as várias guloseimas estão expostas, num longo balcão com tampo de vidro, sem outros artifícios para nos desviarem a atenção do que realmente interessa. Os olhos não comem, mas são eles que nos fazem morder a isca.


Achei igualmente interessante a solução das paredes praticamente nuas, e brancas, em contraponto com o chão e o teto negros. À vista, arcos de pedra preservados e apontamentos barrocos.


[As tartelettes são as criações que mais dão nas vistas (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


É óbvia a intenção da decoradora de serviço — Susana Camelo — de não fazer da Poison d'Amour uma caricatura barroca. As referências estão lá, como o grande retrato da desafortunada rainha Maria Antonieta — incontornável patrone, sobretudo depois do filme de Sofia Coppola com o alto beneplácito da Ladurée —, os espelhos, as banquetas capitonadas, os lustres ou as cadeiras estilo Luís XVI, mas não são mais do que detalhes. 

Acho que resulta (só) até certo ponto. Como em tudo, há coisas mais bem conseguidas do que outras — divertido, por exemplo, o pormenor dos tabuleiros antropomórficos, na parede, com animais em poses reais —, mas, para começar, teria pensado numa outra solução para o extintor. Sei que é um "mal" necessário, imposto por lei inclusive, mas colocá-lo, à vista desarmada, num ponto estratégico do salão principal, nah, não me conformo.


[Doces tentações (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


Com o Inverno à porta, é provável que não se dê muito uso à esplanada nas traseiras, com direito ao entorno bucólico do Jardim Botânico, mas, tratando-se de Lisboa, é sempre bom tê-la à mão para uma eventualidade. No resto, as duas salas interiores servem lindamente.

Por falar em servir, a Poison d'Amour abre para o pequeno-almoço, quer ser uma alternativa para o brunch de sábado e aos almoços tem, pelo menos, duas opções de saladas muito fiáveis (e com uma boa relação qualidade-preço).


[Maria Antonieta, a patrone da Poison d'Amour lisboeta (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


Mas vou falar apenas do que sei. Fui ali, a uma hora do fecho, para lanchar. Hesitei, fiquei tentado a experimentar os macarons — mas lembrei-me que não tenho sido muito feliz nesse quesito em Lisboa; talvez o problema seja meu... —, acabando por me decidir por um clássico da pâtisserie française: uma tartelette de morangos (€3,80). 

Linda por fora, pareceu-me a escolha perfeita para acompanhar um chá Frais Fruite (€2,30), servido em porcelana azul. Tiro ao lado. Massa muito dura e um creme algo desenxabido. Melhor sorte teve um amigo, cuja bavaroise de ananás estava, essa sim, de comer e chorar por mais.


[Os macarons da Poison d'Amour (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]



Um empate, pois então. 

Na verdade, não me custará dar o benefício da dúvida à Poison d'Amour. Pedro Pouseiro, o dono, regressou a Lisboa depois de viver em Paris. Com fabrico próprio, a casa segue à risca o receituário de doçaria francesa, pelo que, quer o chefe pasteleiro, quer todo o material, vieram de França.


Para a próxima, vou escolher melhor. Quem sabe, não será dessa que me vou render aos macarons made in lisboa?

Rua da Escola Politécnica, 32, tel. 213 476 032, de seg. a sex., entre as 10.00 e as 20.00; ao sáb., entre as 09.00 e as 20.00. Encerra ao dom.
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